Computação Soberana

Computação Soberana

por Klaus Wuestefeld


Neide tem 14 anos.

Depois da escola, antes de ir trabalhar com a irmã, ela passa no telecentro da Vila Tiradentes e vê que 11 pessoas já acessaram os serviços soberanos que ela tinha colocado no ar, no dia anterior.

Ela não tem micro em casa, muito menos internet rápida e nem dinheiro para alugar hospedagem de site. Por isso, ela antes usava um hospedeiro gratuito de sites estáticos chamado GeoCities, que faturava colocando propaganda no site dela.

Ela tem um colega de classe, porém, o Pedro, cujo pai tem micro e internet rápida na lojinha da qual é dono.

Juntando o Pedro e mais 4 amigos, que ela conheceu através da rede, ela conseguiu, ao todo, uns 7MHz de processamento e uns 20MB de espaço em HD.

Na verdade, ela conseguiu o dobro disso, mas cedeu a outra metade ao Gladson, ao Maicon e à Carla, outros três pequenos freqüentadores do telecentro. São mais novos que a Neide e ela está ensinando a eles os primeiros passos na informática.

A história da Neide está só começando.


Antes

Antes de alcançarem soberania de computação, as pessoas chegavam a receber centenas de mensagens indesejadas por dia, contendo vírus, correntes, propaganda e outras tranqueiras. Era o famigerado "spam".

Havia, também, na maioria das páginas da Web, animações de propaganda perturbando os internautas, que, naquela época, tinham que se conformar com aquilo.

As pessoas eram obrigadas a fazer cópias freqüentes de todos seus arquivos pessoais em mídias removíveis, como disquetes ou CDs. Isso era chamado de "backup". Por excesso de confiança em suas HDs, muitos perderam toda uma vida de fotos digitais, trabalhos, mensagens, contatos e músicas.

Para poder "acessar" a internet, as pessoas tinham que pagar um "provedor" e obter um tal de "endereço IP", arbitrariamente distribuído por um órgão controlador.

Para manterem-se em contato, as pessoas viviam mandando e recebendo eMails pentelhos de "Anotem aí meu novo celular" ou "Anotem aí meu novo endereço de eMail".

EMails, por sinal, eram mensagens que as pessoas mandavam, sem estarem codificadas, por incrível que pareça, através de intermediários chamados de "provedores", ou seja, sem a menor garantia de privacidade. E pagavam por isso.

Muitos ainda deixavam seus eMails particulares hospedados em servidores de "WebMail", correndo o risco de ter sua privacidade invadida pela patota de operadores do sistema ou de ter seus eMails perdidos por eles, de uma hora para a outra.

Quando faziam buscas na internet, em vez de receberem primeiro as páginas mais relevantes para elas, as pessoas recebiam primeiro as páginas que o site de buscas, por exemplo um tal de "Google", considerava ser as mais relevantes.

As pessoas que compartilhavam músicas, filmes e outros arquivos, através de sisteminhas "peer-to-peer", chegavam a esperar dias para baixar um filme e ainda tinham que ficar garimpando numa torrente de arquivos bichados, falsos e incompletos.

Com capacidade de expressão limitada a insípidos "blogs", a maioria das pessoas era mera consumidora de informação produzida por terceiros e enlatada pelos auto-denominados "provedores de conteúdo".

Aqueles que só usavam um determinado sistema de mensagens instantâneas eram incapazes de comunicar-se com aqueles que usavam qualquer outro sistema. "ICQ" e "MSN" eram alguns dos que existiam na época. Muitas pessoas trabalhavam com vários desses sistemas, abertos ao mesmo tempo, para poder conversar com todos seus amigos.

Alguns participavam de redes de relacionamento rudimentares, como o "Orkut" e o "1Grau". Eram limitadas, não se comunicavam entre si e, por serem baseadas em sites centralizados, ofereciam os mesmos riscos de confiabilidade e violação de privacidade que os servidores de WebMail.

Se, em vez de usar servidores alheios, alguém quisesse colocar seu próprio servidor na internet, com um nome de "domínio" próprio, era obrigado a pagar, todo ano, mais uma taxa arbitrária. Caso seu nome de domínio já tivesse sido escolhido, esse alguém tinha que se conformar e escolher outro.

Para colocar no ar um site seguro, as pessoas eram obrigadas a comprar "certificados digitais" de alguma dentre meia-dúzia de empresas, como a "Verisign" ou a "Certisign". Todo mundo, através dos cadeadinhos em seus browsers, confiava cegamente nessas empresas, as donas da verdade.

A maioria das pessoas se refugiava na ignorância. Algumas, inseridas naquele contexto deprimente, chegaram a criar para si uma ilusão de liberdade, uma liberdade paleativa chamada "Software Livre".

Usuários de Software Livre ou não, portanto, todos não passavam de súditos. Subjugados por um punhado de "autoridades" da internet, conformavam-se às leis arbitrárias, ditadas por elas.


A Virada

Aí, as pessoas cansaram dessa palhaçada.

Decidiram que seriam livres para compartilhar informação e recursos de hardware com seus amigos, da forma como bem entendessem.

Essa liberdade ficou conhecida como soberania de computação.


Depois

Além de simplesmente eliminar todas as mazelas acima, a computação soberana abriu, ainda, uma série de possibilidades com as quais as pessoas sequer sonhavam.

Organizações, famílias e grupos de afinidade em geral abandonaram as patéticas "listas de discussão" baseadas em eMail e passaram a compartilhar bases de informação extremamente ricas, intricadas e amigáveis.

Não era mais necessário ficar manualmente atribuindo e revogando direitos de acesso para cada usuário de sistemas restritos. Os administradores de sistemas foram liberados para fazer coisas mais úteis.

Tornou-se trivial trabalhar em conjunto com outras pessoas, compartilhando projetos on-line, sem ter que ficar mandando eMails pra lá e pra cá, duplicando versões e mais versões de "documentos" anexos.

As pessoas passaram a usar a internet, não apenas como ferramenta de comunicação com seus contatos, mas também como forma de expressão.

Extrapolando os limites dos "blogs", todas as pessoas passaram a ter voz influente, ouvida por suas comunidades na internet, sem depender de provedores ou hospedeiros.

Quando alcançaram soberania de computação, portanto, as pessoas tomaram para si o direito de livre publicação.

Completou-se, assim, o ciclo iniciado por Gutenberg, quinhentos anos antes, quando deu às pessoas o livre acesso à informação.

Depois dos devidos ajustes legislativos em seus países, as pessoas passaram a fazer compras e estabelecer crédito usando moedas eletrônicas que elas próprias emitiam. Cada pessoa passou a ser sua própria casa da moeda, superando a liquidez do sistema monetário e ainda recuperando a autonomia do escambo, perdida há milhares de anos.

Qualquer pessoa passou a ser capaz de, com um único clique de mouse, hospedar qualquer serviço em sua máquina, para ser acessado por ela e por seus amigos; e esses serviços permaneciam no ar, mesmo quando essa pessoa desligava sua máquina.


Como?

O acima é a história que vamos contar para nossos filhos e netos. Então, serão comuns histórias como a da Neide que, por enquanto, é somente um flash do futuro.

Vou mostrar que, retomando algumas liberdades simples, que temos no mundo real mas perdemos no mundo virtual, viver essa nova realidade é apenas uma questão de tempo.

Por ser uma experiência extremamente gostosa, não é de muito tempo que estamos falando.

"Estamos falando de um novo software? Uma nova tecnologia?"

Sim, mas não só isso. É muito mais simples e muito mais abrangente que isso. É de uma nova atitude que estamos falando. É o querer:

Ser livre para compartilhar informação e recursos de hardware com os amigos.


Quando alcançarmos essa liberdade, teremos alcançado soberania de computação.

"Tá, e daí? Como vamos alcançar essa liberdade?"

Aos poucos.


* Primeira Liberdade: Nome Próprio


Você deve ser livre para escolher para si um nome, qualquer nome.

Não precisa ser um nome esquisito do tipo "jose sem acento underscore da underscore silva arroba iarrú ponto com ponto bê erre". Pode ser "José da Silva", com direito a acento, espaços, letras maiúsculas e tudo.

E não precisa ser um nome novo, exclusivo, inédito. Se você mudasse seu nome, só porque alguém dissesse que já existe um José da Silva cadastrado no sistema dele, você não seria soberano. Você seria um merda!!

E também não precisa ser um nome definitivo. Sendo soberano, você pode mudar quantas vezes quiser, claro.

Eu, por exemplo, atualmente me chamo "Klaus Wuestefeld".


* Segunda Liberdade: Apelidos


Você deve ser livre para chamar seus amigos do que bem entender.

Se você tiver um dentista chamado "Fernando dos Santos" e um primo com o mesmo nome, você pode dar a um o apelido de "Dentista", por exemplo, e ao outro o apelido de "Nando".

Perceba que, para você, o Nando agora se chama "Nando" e não "fernando dos santos tudo junto arroba rótimeiou ponto com".

A secretária do seu dentista, para você, passa a ser simplesmente "Dentista -> Secretária", e não mais "ana ponto claudia 2004 arroba terra ponto com ponto bê erre".

Dessa forma, conseguimos libertar-nos da ilusão de que precisa haver um único esquema absoluto de endereçamento.

Quando caímos nessa falácia, estamos, na verdade, adotando e nos subordinando a um esquema que alguém inventou e, com isso, abdicando de nossa soberania. Os endereços IP como "200.181.15.26" e nomes de domínio como "prevayler.org" são exemplos disso.

Você sabe quem manda na distribuição desses endereços? Se não sabe, talvez de forma sutil, mas está deixando alguém que nem conhece ter domínio sobre você.

O mesmo se aplica a um país inteiro que, vergonhosamente, se subordina a um esquema gringo desses.

"É proibido, então, usar endereços IP ou nomes de domínio?"

Claro que não. Sendo soberanos, podemos usar o que quisermos.

Se, além de "Mãe -> Site", você quiser continuar chamando o site da sua mãe também de "agá tê tê pê dois pontos barra barra dáblio dáblio dáblio ponto provedor ponto com ponto bê erre barra til fulanadetal", tudo bem. Você só deixará de ser soberano, se for incapaz de usar o seu próprio esquema de endereçamento, quando bem entender.

Para ser soberano, portanto, você vai usar um esquema RELATIVO de endereçamento, tendo a si próprio como ponto de origem. "Você -> Dentista -> Secretária", é um exemplo de caminho RELATIVO, partindo de você. "A cunhada do meu tio" é outro exemplo.

[Eu usei setinhas (->) para indicar o caminho, mas você pode usar o que quiser, claro. Se não pudesse, não seria soberano.]

Einstein mostrou que, até no mundo físico, absolutismo e objetividade são meras ilusões. Estamos simplesmente nos dando conta de que o mesmo se aplica ao mundo virtual.


* Terceira Liberdade: Confiança


Voce deve ser livre para confiar em quem você quiser.

Qualquer um consegue ser soberano sozinho, isolado numa ilha, mas isso não tem a menor graça. A coisa começa a pegar e, ao mesmo tempo, começa a ficar interessante, quando você interage com outras pessoas.

O que determina a intensidade de suas interações com outras pessoas é o grau da confiança que você tem em cada uma delas.

Qual é o endereço do site do seu banco?

Esse endereço vai apontar para o que seu provedor de internet quiser. Seu provedor de internet pode te enganar, fazendo-se passar por qualquer site não seguro da internet.

Em conchavo com alguma da empresas "donas da verdade" como a Verisign ou a Certisign, qualquer provedor de internet do mundo poderia fazer-se passar por qualquer site, de qualquer organização, incluindo sites seguros (com cadeadinho), como o site do seu banco.

Tá, mas por que os provedores de internet não fazem isso? Por que a Verisign não faz isso? Por que devo confiar neles?

"Ora, porque a maioria das pessoas confia."

A maioria do povo alemão confiou em Hitler e o resto da história já conhecemos. E o povo alemão ainda conhecia o sujeito. Dos internautas que sabem o que significa o tal "cadeadinho", apenas uma fração sequer ouviu falar em Verisign, Certisign e curriola.

Para ser soberano, portanto, você pode simplesmente parar de confiar em quem não conhece. Você pode simplesmente mandar seu provedor de internet e as "donas da verdade" catar coquinho.

Agora, se você confia no seu irmão e ele disser que confia no cunhado dele, sua tendência, por causa da indicação, é passar a confiar um pouco no tal cunhado, não é?

Podemos representar confiabilidade como uma porcentagem, onde 0% seria confiabilidade nenhuma e 100% seria confiabilidade total.

Se você disser que confia 70% em seu irmão e ele disser que confia 50% no cunhado dele, por exemplo, você pode considerar uma confiabilidade de 35% (70% x 50%) para o cunhado do seu irmão.

Perceba que, dessa forma, a confiança que você tem em alguém vai sempre diminuindo à medida que as relações vão se distanciando, exatamente como na vida real.

E, também como na vida real, você pode confiar mais ou menos em determinada pessoa, dependendo do assunto. Você pode confiar 70% no seu irmão, quando o assunto é futebol. No quesito "Música", por outro lado, a confiabilidade do seu irmão, para você, pode ser só de 1%, devido ao deplorável gosto musical dele.

"Quais são os quesitos que posso usar?"

Você não está entendendo. Sendo soberano, você é livre para usar os quesitos que quiser e, se não quiser quesito nenhum, tudo bem também.

"Para que serve saber que o cunhado do meu irmão tem uma confiabilidade de 35% e que o tio da namorada do vizinho do papagaio do dentista do meu avô tem, para mim, confiabilidade de 0,06%?"

Serve para assegurar nossa quarta liberdade.


* Quarta Liberdade: Privacidade


Privacidade tem dois aspectos:

Você deve ser livre para ver somente aquilo que quer ver e;
Você deve ser livre para manter informações escondidas de pessoas em quem você não confia.

Esse segundo aspecto do sigilo é óbvio. Seguem, então, alguns exemplos do primeiro aspecto.

Sempre que fizer uma busca por uma página, música, filme ou qualquer recurso que seja, você pode ordenar os resultados por ordem de confiabilidade, deixando as tranqueiras lá pro final.

Sendo soberano, você pode decidir que quer ser interrompido por mensagens urgentes de quem tiver mais de 60% de confiabilidade, mas que todas as mensagens de remetentes com menos de 1% de confiabilidade vão direto pro lixo.

Sendo soberano, você pode dizer adeus aos spammers.


* Quinta Liberdade - Expressão


Você deve ser livre para se expressar.

Depender de um hospedeiro de sites ou de blogs não é ser livre. Estar limitado a esse tipo ridículo de veículo também está longe de ser livre.

Além disso, deve ser extremamente fácil para seus amigos, para as pessoas que confiam em você, ouvir sua voz, saber da sua opinião a respeito dos assuntos que lhes interessam.

Gosto musical é um exemplo bem prosaico disso.

Quais são as dez melhores músicas de todos os tempos?
Quais são as dez piores músicas?
Quais são as dez melhores músicas de fossa?
Quais são as dez músicas que mais teimam em sair da cabeça?
Quais são as dez melhores músicas para se cantar no chuveiro?

Tenho certeza que você estaria interessado na opinião de seus amigos, assim como muitos estariam interessados na sua opinião, neste tipo de assunto.

Imagine que você dê notas para aquelas que são, na sua opinião, as dez melhores músicas para se ouvir transando.

Enquanto a média das suas notas é oito, por exemplo, você percebe que as notas de uma amiga sua, muito mais exigente que você, é quatro. Para efeito de comparação, você resolve multiplicar por dois as notas dela, para que fiquem na mesma escala que as suas.

Você percebe, ainda, que outro amigo seu mantém duas listas: as dez melhores para se ouvir transando em casa e as dez melhores para se ouvir transando no carro. Isso é frescura demais pra você, então você simplesmente junta as duas listas numa só e pega as dez primeiras músicas.

Você, agora, pode publicar uma síntese das suas melhores músicas junto com as de seus amigos, na mesma classificação e na mesma escala.

Perceba que SÍNTESE, portanto, também é uma forma de expressão.

Ela é justamente a força que equilibra o caos criado por milhões de partes soberanas, publicando uma infinidade de informações da forma como bem entendem. Você tem acesso a essas informações não diretamente, se não quiser, mas através de sínteses; e sínteses feitas pelas pessoas nas quais você mais confia para cada assunto.


* Sexta Liberdade - Hardware


Você deve ser livre para compartilhar seus recursos de hardware como bem entender.

Pela primeira vez na vida, a capacidade da minha HD superou minha capacidade de instalar programas e armazenar arquivos lá dentro. Pela primeira vez, tenho espaço sobrando e são algumas dezenas de Gigas.

Mesmo assim, sou obrigado a ficar fazendo backup de meus arquivos pessoais, incluindo minhas fotos digitais, para não correr o risco de perdê-los. A minha mãe se encontra exatamente na mesma situação.

Depois de procurar durante horas, não encontrei solução alguma que me permitisse criar, através da internet, de forma completamente transparente, no espaço vago da minha HD, uma réplica dos arquivos da minha mãe e vice-versa.

Talvez até exista tal solução, mas certamente não é de uso comum.

Para sermos verdadeiramente soberanos, devemos ser capazes de nos associar livremente e compartilhar o espaço de nossas HDs. O mesmo se aplica à nossa memória RAM, nossos processadores e nossos links de internet.

Com isso, podemos dizer adeus aos hospedeiros de internet, tais quais os conhecemos hoje.

Se você, minha mãe e eu formarmos um cluster de 3 máquinas, teremos presenças na internet mais robustas e com maior disponibilidade que 99% dos sites comerciais de hoje, mesmo sem fazer backup.

E não precisa parar por aí. Quantos amigos você tem que possuem máquinas em casa com internet rápida?

Federando-se a seus amigos soberanos, você pode estabelecer uma presença praticamente invulnerável na internet.

Mesmo que sua máquina seja desligada, sua presença virtual continuará viva e perfeitamente bem, hospedada nas máquinas das pessoas em quem você confia.


* Sétima Liberdade - Software


Você deve ser livre para compartilhar todo software que usa com quem bem entender.

Para isso, usar Software Livre é indispensável, claro, mas não é suficiente. O software tem que ser extremamente fácil, trivial de instalar e de usar.

Recentemente, os produtos de Software Livre têm melhorado muito nisso, mas é um ponto que as principais definições de "Software Livre" ainda deixam de fora.

Quanto mais amigável de instalar e de usar for determinado software, maior o número de pessoas com as quais você será livre para compartilhá-lo.



Conclusão

Mesmo recorrendo a todo o arsenal de Software Livre à minha disposição, sem antes passar meses programando, nem eu, que cresci em meio a computadores, sou capaz de compartilhar informação e recursos de hardware com meus amigos de forma completamente livre.

Isso é ridículo.

Alguns amigos e eu estamos desenvolvendo aplicativos que, além de serem livres, tornam trivial a qualquer pessoa alcançar soberania de computação.

"Por que vocês estão fazendo isso?"

Porque podemos.

Somos programadores. É praticamente nosso dever terminar de vez com a palhaçada que é, hoje, usar a internet.

Além disso, um mundo de pessoas independentes e soberanas vai ser muito mais interessante que hordas e hordas de internautas passivos e embotados.

"Mas é necessário ser programador para ajudar?"

Não. De nada adianta um software, se ninguém souber dele e se ninguém usá-lo. Para usar o que estamos desenvolvendo, basta querer ser livre, verdadeiramente livre.


Final da História

Neide está feliz porque, tirando o site dela do GeoCities, além de poder usar conteúdo dinâmico, ela vai finalmente conseguir sumir com aquela maldita propaganda que aparecia em seu site.

Ela vai poder usar programação de verdade, que começou a aprender no ano passado, e criar seu próprio serviço soberano. Outras pessoas, quem sabe, podem até vir a copiá-lo e instalá-lo em suas próprias máquinas.

Ela sai do telecentro, rumo ao trabalho da irmã, de cabeça erguida, sorrindo. Ela saltita.

Pode ser que ela não seja ninguém no mundo real, mas ela sabe que, pelo menos no mundo virtual, ela tem futuro.

Ela é alguém.

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